JÚLIO CESAR DE SÁ ROCHA
"Estou fazendo uma opção preferencial em dirigir uma faculdade de direito que tem 126 anos de história"
Nosso blog entrevistou o professor e vice-diretor da
Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia, Júlio Cesar de Sá Rocha.
Com apenas 48 anos, o professor Júlio Rocha é graduado em Direito pela UFBA,
mestre e doutor em Direito pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e pós-doutor em Antropologia pela
UFBA. Além de uma carreira acadêmica invejável, com diversos trabalhos
publicados, o professor Júlio Rocha foi Diretor-Geral do INGÁ no governo
Wagner e é dirigente partidário da Rede Sustentabilidade na Bahia. Em
primeira mão, o professor Rocha afirma que é candidato a diretor da Faculdade
da UFBA e não será candidato em 2018 a nenhum cargo eletivo pelo seu partido. O
professor Júlio Rocha adora praticar caminhadas, encontrar pessoas, ler e ouvir
músicas. Pela internet, o professor aceitou um bate papo com nosso blog e não
se furtou de qualquer pergunta. Vale a pena conferir!
Blog – Professor Julio Rocha,
como analisa a conjuntura política atual?
Extremamente delicada.
Instabilidade política manifesta, inclusive diante dos últimos acontecimentos
envolvendo a divulgação de mais uma denúncia da Lava-Jato em relação a Temer e
Aécio Neves.
Blog – O Sr hoje é uma
referência na política partidária, na luta ambiental e no campo jurídico. Três
áreas necessárias, mas que vivem em crise ou descrédito profundo no Brasil. O
Sr se considera um pregador no deserto?
Me considero uma pessoa de
utopias. Na universidade assumo meu papel como docente e pesquisador. Tenho
discernimento de separar meus papéis e compreendo a universidade como local da
diversidade. Tenho contato cotidiano com colegas de diversas concepções
políticas, mas considero próprio do ambiente universitário, precisamos
respeitar as diferenças. Venho de uma formação jesuíta que me deu compromisso
social e capacidade de busca de consensos. O que não concordo é com
autoritarismo, desrespeito aos direitos humanos e discriminação de qualquer
forma. Na Universidade tenho uma clara posição em defesa do ensino público,
gratuito e comprometido socialmente. Por exemplo, sou a favor das cotas e das
políticas afirmativas, defendo os bacharelados interdisciplinares pois entendo
que o Estado tem uma dívida histórica contra povos originários, os
afrodescendentes e demais grupos vulneráveis.
Blog – A tragédia ambiental de
Mariana tem relação com o processo de privatização ou foi apenas um lamentável
acidente?
Minha colega antropóloga
Andrea Zhouri (UFMG) explicita em seu Livro “Formas de Matar, morrer e
resistir” que os acidentes não são tão acidentais como parecem. Mariana é uma crônica de uma morte anunciada, situação
que pode acontecem com diversas barragens no Brasil. Existem retrocessos
ambientais explícitos, como a aprovação do Código Florestal (Lei 12.651/2012),
o desmonte dos órgãos ambientais, como ocorreu na Bahia. Agora com a tentativa
de mudanças no instrumento do licenciamento ambiental e da PEC 215 contra
demarcação de terras indígenas.
Júlio é um ativista ambiental. Deserto de Atacama, Chile, andanças nas férias |
Participei nacionalmente de
projeto do Combate à desertificação. Minha posição é que foi
secundarizado assim como outras políticas ambientais. A agenda ambiental tem
sido esvaziada nos últimos anos. Internacionalmente o Brasil poderia ter uma
participação mais ativa e protagonista, por exemplo na questão da
biodiversidade.
Blog – Marina Silva, uma das
grandes referências do partido REDE que o Sr faz parte, apoiou Aécio Neves no
segundo turno na eleição passada. Foi um erro este apoio ou foi à decisão mais
acertada para o momento?
Não gostaria de confundir o tema da política com a atividade acadêmica, mas a proposta aqui é uma entrevista
com o cidadão. A candidata cumpriu decisão partidária que lhe deu esta opção.
Por exemplo, votei nulo no segundo turno da eleição presidencial de 2014.
Blog – Como jurista e
vice-diretor da Faculdade de Direito da UFBA, qual a avaliação que o Sr faz da
operação Lava Jato?
A operação tem o mérito de
investigar e explicitar práticas políticas inadequadas e de realizar mazelas do
sistema político eleitoral. Por sua vez, tenho preocupações com excessivo
caráter midiático de ações e restrições a garantias constitucionalmente
asseguradas e o direito de defesa.
Blog – Breve, a Faculdade de Direito
terá novas eleições para Diretor. O Sr será candidato?
Discurso do centenário na formatura em 1992 |
Fiz inscrição como candidato
a diretor para o próximo quadriênio. Somente foi registrada uma única
candidatura a direção da Faculdade.
Blog - Qual o balanço que o Sr faz
do trabalho da atual gestão a frente da Faculdade de Direito da UFBA?
Sou um vice-diretor presente
na Faculdade de Direito, dialogo permanentemente com docentes, servidores e
estudantes, encaminho demandas diversas, assino documentos e acompanho
formaturas, participo do conselho universitário e apoio o diretor Celso Castro
no que me demanda nas atribuições estatutárias da UFBA. Por fim, considero que
a tarefa de coordenação dos últimos concursos realizados foi uma das metas que
mais me causou alegria. Conseguimos incorporar quase vinte novos colegas como
docentes totalizando mais de cento e dez professores (as) na Faculdade de
Direito. Todos os docentes aprovados foram nomeados com apoio destacado do
Reitor João Carlos Salles e do Pró-Reitor de Graduação Penildon Silva Filho. No
mais considero que atuei integralmente como docente/pesquisador da graduação,
no colegiado, no núcleo docente estruturante, no departamento de estudos
jurídicos fundamentais e no mestrado/doutorado da Faculdade de Direito (PPPGD
UFBA).
"A agenda ambiental tem sido esvaziada nos últimos anos.Internacionalmente o Brasil poderia ter uma participação mais ativa " |
Fiz a opção de me dedicar a
área acadêmica, não serei candidato. Estou fazendo uma opção preferencial em
dirigir uma faculdade de direito que tem 126 anos de história e uma
responsabilidade nacional. Somos uma das melhores faculdades de direito do
Brasil, mas precisamos agora construir unidade para avançar.
Blog – Qual avaliação que o Sr
faz do governo Rui Costa?
Gostaria de me reservar em não aprofundar este debate. Conheço o governador deste 1990, fui estagiário de
direito no Sindicato dos Químicos e Petroquímicos e lá conheci dirigentes
sindicais que mais tarde tiveram posição destacada no cenário político. Meu
estilo político sempre foi de muita polidez e sempre os tratei com respeito e
hoje com independência. Aliás, dialogo com amplas forças políticas da Bahia,
tenho acesso a parlamentares de partidos diversos. O governo estadual tem
acertos e áreas que precisam ser reavaliadas. Por exemplo, considero equivocada
a política ambiental que esfacelou os avanços na área de recursos hídricos.
Considero que a educação merece um melhor tratamento, as universidades
estaduais baianas queixam-se de diminuição de recursos públicos e apoio.
Blog – O que a população,
sobretudo as camadas de baixa renda, pode esperar de justiça social num Brasil
tão injusto?
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