20 de abril de 2017

Rússia proíbe atividades das Testemunhas de Jeová; grupo fala em perseguição

Depois de cinco sessões adiadas, o julgamento foi retomado na manhã desta quinta-feira
Jefferson Domingos

A Suprema Corte da Rússia proibiu nesta quinta-feira, 20, todas as atividades religiosas da organização Testemunhas de Jeová. Em março, o Ministério da Justiça já havia suspendido a prática no país, acusando o movimento de armazenar e difundir literatura religiosa de caráter "extremista". Com a aprovação do processo, os fiéis russos terão seus donativos confiscados ao estado.
Em andamento desde o dia 5 de abril, o caso foi retomado nesta manhã depois de ter cinco sessões adiadas. Segundo comunicado do ministério, o Centro de Direção das Testemunhas de Jeová na Rússia, que dirige todas as filiais regionais e locais da comunidade religiosa, foi incluído na lista de organizações não governamentais e religiosas que foram suspensas por extremismo.
Por outro lado, a organização religiosa prometeu que recorrerá da decisão. Mas a partir de agora, qualquer um dos mais de 170 mil Testemunhas de Jeová do país poderá ser processado criminalmente por se reunir para adoração, ler a Bíblia em grupo ou até falar sobre sua fé.
Na Rússia, o grupo religioso possui 395 centros e, nos últimos anos, já travou várias disputas com as autoridades. Em janeiro, o líder da organização na cidade de Dzerzhinsk chegou a ser multado pelas autoridades, que consideraram que ele distribuía materiais com teor extremista.
Em 2014, o governo russo conseguiu dissolver um ramo da organização religiosa. Seis anos depois, a Corte Europeia de Direitos Humanos considerou a decisão como violação aos direitos da religião e associação.
Tristeza baiana
Representante da Testemunha de Jeová na Bahia, Josenilton da Silva Santos vê injustiça na decisão da Suprema Corte. "Recebemos a notícia com tristeza. Foi um julgamento injusto. A Testemunha de Jeová existe na Rússia desde século 19 e, de lá para cá, não existe nenhuma prova que o grupo esteja envolvido em algum ato extremista", defende.
Segundo ele, a organização sempre agiu de forma transparente, inclusive, com um site disponível para todo o mundo, onde é disponibilizado informações sobre as atividades promovidas pelo grupo. "A impressão que fica é de perseguição. Compreendemos que o governo não nos vê com bons olhos. Mas, numa época em que se falar em liberdade de expressão e religiosa, somos proibidos".
Josenilton entende que o grupo deve cumprir naturalmente a decisão na Rússia para, aí sim, recorrer de forma legal, inclusive na Corte Europeia. Ele lembrou que após a suspensão das atividades em março, o governo russo recebeu mais de 8 milhões de cartas de fiéis por todo mundo. "Na Bahia, ao menos 100 mil pessoas enviaram uma carta em apoio", contabilizou ele, prevendo um engajamento mundial ainda maior a partir de agora.
Mobilização
Depois da suspensão das atividades em março, as Testemunhas de Jeová fizeram um apelo direto aos funcionários do Kremlin (sede do governo russo) e do Supremo Tribunal do país,.
A mobilização aconteceu por meio de uma campanha mundial de cartas. Todos os mais de 8 milhões de Testemunhas de Jeová no mundo foram convocados para participar da ação.
Uma mesma campanha global já foi realizada no passado. Na época, os membros da religião escreveram cartas para defender seus companheiros de adoração na Rússia por causa dos esforços de alguns representantes do governo para ‘difamar’ as Testemunhas de Jeová. No passado, elas também escreveram cartas para pedir que funcionários do governo de países como Jordânia, Coreia e Malauí acabassem com a perseguição às Testemunhas de Jeová.
O porta-voz das Testemunhas de Jeová na Rússia, Ivan Belenko, denunciou à Agência Efe que a decisão das autoridades russas privará o direito à liberdade ao culto dessa comunidade no país.
"Todas as decisões judiciais contra nós se baseiam em uma única acusação: que alguns de nossos livros e discursos estão na lista de literatura extremista que existe neste país", explicou Belenko.

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